Paranoid - Black Sabbath





O Black Sabbath foi praticamente a pedra fundamental para o heavy metal. Eram profetas criados à margem da sociedade inglesa, eles eram desempregados, socialmente desprezíveis e ainda moralmente suspeitos. Em 1970 a banda já havia lançado o álbum Black Sabbath, um álbum que chocou e trouxe revolução à música. Flutuando entre harmônicos zumbidos, a dimensão aterrorizante da música cresce até o clímax na mesma medida em que o juízo final persegue o relutante protagonista. A história macabra, digna de Edgar Allan Poe, contada por uma revoada de guitarras, bateria e um microfone crepitante. Assim o Black Sabbath, inspirou imediata admiração, cativou o publico completamente e também afetou a banda de modo tão irreversível, em meio à entorpecida inocência, percebeu-se levada por uma força misteriosa em direção ao sucesso. Não demoraria até se libertasse de suas origens, saindo do rock'n'roll para explorar a recém-conquistada liberdade de inovadores como Miles Davis.

O Sabbath e seus membros cultivavam uma imagem horripilante – embalada pela bruxaria e pelo misticismo de ocasião, acorrentados a bem combinadas cruzes prateadas – que deu a banda a fama de pretensos satanistas e ainda rendeu um ou outro protesto público por parte dos defensores da igreja. Antes deles, astros do rock haviam encantado a opinião publica com flores, desfiles e promessas de mudar o mundo. O Black Sabbath avançou ao fim dessa procissão, ainda professando a necessidade de amor, mas avisando aos errantes que não haveria volta a um ingênuo estado de graça.

No fim dos anos 60, o cenário do rock passava por um verdadeiro turbilhão de acontecimentos e beirava a decadência. Fatos como as quatro mortes ocorridas no show dos Rolling Stones, no Altamont Receway, em dezembro de 69, chocaram a comunidade do rock e deixaram os jovens desiludidos com os ideias pacifistas. Depois disso em abril 1970, enquanto o Sabbath estava bem posicionado nas listas dos mais vendidos, Paul MacCartney anunciava a efetiva separação dos Beatles e ainda Jonis Joplin, Jimi Hendrix e Jim Morrison, em vez de confortar seu publico nesse mundo já tão incerto, morreriam de overdose em menos de um ano. A geração "paz e amor" que havia criado a contracultura, agora já cansada e frustrada, voltava em hordas para onde havia nascido ou ia em direção as montanhas – qualquer coisa que exorcizasse os pesadelos descomunais da utopia que havia entrado em colapso. Esse era o cenário no final dos anos 60.

Em meio a isso, o Sabbath parecia fortalecer-se, apesar de tais adversidades, e nunca fingia ter respostas para além das ocasionais exortações de amor ao próximo. Embora retratados como pobres coitados e desordeiros, o álbum de lançamento da banda logo alcançou a lista dos dez mais vendidos da Inglaterra. Em sua turnê inaugural pelos EUA, planejada em meados de 1970, foi cancelada graças ao julgamento de Manson, pois o clima do país era de pouca hospitalidade com tipos aparentemente perigosos. Então a Vertigo Records, tanto tentou que acabou conseguindo extrair mais material inédito d abanda, ao interromper a tour e recrutá-los para outro período de gravações em setembro de 1970.

Então bem mais entrosada e com propósito criativo intensificado a banda emergiu depois de dois dias de gravação com o seu álbum mais vendido, o poderoso Paranoid (1970), do qual saíram as músicas "War Pigs", "Paranoid" e "Iron Man".

Embora Paranoid (1970) mantivesse o assustador espirito do Black Sabbath, as propostas do segundo álbum eram menos místicas e mais tangíveis. Ozzy Osbourne, obcecado por temas como estrago e perda de controle, discorre sobre os males do vício em "Hand of Doom", guerra nuclear em "Eletric Funeral" e trauma psicológico causado pela guerra em "Iron Man". Assim como a impressionante faixa-titulo, a alma de "Paranoid" ainda parecia vir de uma publicação ocultista, Walpurgis, cuja a letra suscitava imagens como "as bruxas em missas negras" e "os feiticeiros da morte". Quando gravada para o álbum Paranoid (1970), entretanto, a música foi levemente reescrita e virou "War Pigs", um cataclísmico hino antiguerra, que acusava políticos de enviarem jovens pobres para fazer o trabalho sujo no lugar dos bancos e da nação.

Os membros do Sabbath agora tinham experiência não apenas como músicos, mas como porta-vozes de uma geração. Se a mudança aconteceria via música, o letrista Geezer Butler entendeu que teria de combater tudo que era feio logo na linha de frente. As novas músicas do Black Sabbath buscavam paz e amor, mas não nos moldes de Donovan e Jefferson Airplane, e, sim, na endurecida realidade de campos de batalha e fornos humanos. Ozzy Osbourne despejava as letras como em um transe, lendo mensagens dotadas de muita verdade.

Paranoid (1970) foi uma espécie de âncora para o heavy metal. Se antes a banda tinha uma proposta aterrorizadora em suas letras, nesse álbum isso não aconteceu com tanta ênfase, fato é que a banda buscou uma variedade, abordando temas bélico-politicas e de ficção cientifica, tudo girando em torno de uma critica severa.

O Black Sabbath teve uma importância sem precedentes para o heavy metal, que naquele tempo até existia, mas não era ligado a um gênero musical. Sem o Black Sabbath, a expressão "heavy metal", seria apenas um acidente poético, a profecia vazia contida no texto escrito por milhares de macacos brincando de máquinas de escrever, tentando escrever a Bíblia.



Fonte: Paranoid - Black Sabbath http://whiplash.net/materias/cds/168050-blacksabbath.html#ixzz2Ii0zhjf7
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Autor Hm Rock Reviews

Mayumi Correa Ohasi, nasceu em 10 de março de 1996 na cidade de Himeji-Japão. Começou faculdade de Designer Gráfico mas trancou no 2° semestre. Administradora do site Mayumi Ohasi e HM Rock Reviews.

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