Against - Sepultura

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Muito especulou-se sobre o que aconteceria ao Sepultura na época. Alguns pensavam que a banda poderia acabar. Outros ainda apostavam no futuro da banda, que poderia voltar ainda mais forte do que antes. Nomes como Chuck Billy, do TESTAMENT, e Robin Flynn, do MACHINE HEAD, haviam sido cotados para assumirem os vocais por toda a temporada. Mas, por unanimidade, o até então desconhecido Derrick Green, também norte-americano, acabou sendo o escolhido. Aí então, durante todo o ano de 1997, a banda se recolheu para iniciar os preparativos do primeiro álbum sem Max Cavalera: "Against". Este foi o penúltimo álbum do Sepultura distribuído pela Roadrunner e também representou o primeiro fiasco em venda da banda em 10 anos. A própria gravadora recusou-se a acreditar no futuro da banda e investiu todas as fichas no debut da nova banda do ex-frontman, o Soulfly, estratégia essa que deu um tanto certo para a gravadora, mas acabou deixando a banda com um profundo ressentimento, o que levaria o quarteto a deixar o selo dois anos mais tarde.
A banda resolveu usufruir de experimentalismos nesse novo álbum. Outrora não poderiam abandonar a fórmula do sucesso de álbuns anteriores (Chaos A.D e Roots, que apresentam grandes quantidades de grooves nas composições), mas eles queriam ir além. Desde a capa, a banda adicionou à sua sonoridade influências de música japonesa (em grande parte, devido a Igor Cavalera e seu fascínio por tal), e também o Hardcore (Derrick havia cantado em bandas desse estilo, anteriormente a sua entrada) além da música brasileira, que já lhes era familiar. A produção de Howard Benson, acabou por extinguir aquela característica abafada do álbum anterior, com todos os instrumentos soando limpos e em seu devido lugar.

O álbum inicia soturno, com algumas leves batidas num tambor, até iniciar-se um devastador solo de bateria de Igor Cavalera e explodir numa música rápida e animada. "Against" foi a faixa de abertura do álbum. A letra, carregada de raiva, aparentemente fala sobre aqueles que pensavam sobre o fim da banda, ou mesmo desejavam isso e não acreditavam num futuro sem Max Cavalera. A faixa tem pouco menos de 2 minutos, e está a deixa das influências de Hardcore, bem mais latentes que em álbuns anteriores.

A segunda faixa, "Choke", inicia-se de uma forma bastante "Sepultura de ser". Um riff bastante grooveado, e uma bateria lenta bem ao jeito do Igor, com pedais duplos em grande parte dos momentos e uma passagem brevemente acústica e tribal, para depois acelerar novamente. A letra fala sobre uma pessoa falsa, sufocada em seu próprio orgulho, o ego e ganância. Seria essa uma indireta a Max Cavalera? Conspirações a parte, essa é a única música do álbum ainda tocada ao vivo, e ao que parece, é bem querida pelos fãs da nova fase.

"Rumors", inicia-se muito agressiva, por si só. Com o baixo denso de Paulo Xisto iniciando com a mesma levada do Riff, os pedais duplos de Igor dão as caras novamente, enquanto Derrick sussurra sorrateiramente os versos que, como já diz o título da música, falam sobre, de forma bem ríspida, os rumores a respeito do futuro da banda. Como de praxe, no meio, há uma pequena parada da banda, ficando apenas a rufar a bateria de Igor, e numa pegada bastante Nu Metal, os riffs e pedais duplos voltam com tudo, conduzindo a música a um final magistral.

A quarta música, tem um início um tanto "barulhento", assim digamos. As guitarras de Andreas emitem sons desconexos e a banda aparece discretamente, até iniciar realmente, com uma levada que lembra algo como o Forró e o Baião. A bateria de Igor Cavalera é destaque: Talvez esse seja o álbum em que o músico mais tenha usado pedal duplo em toda a sua carreira, e ele aposta em arranjos ainda mais pomposos e técnicos que outrora já havia feito. A letra da música fala sobre o planeta e a humanidade em declínio, seguindo a letra, um planeta "apodrecido". A voz de Derrick Green, pela primeira vez, soa ainda mais agressiva, que em comparação as músicas anteriores. Uma das manias que Andreas adquiriu durante o Roots e perdurou por aqui, foi o fato de usar bastante a alavanca e sons estranhos no lugar de solos convencionais, prática que hoje, felizmente, ele abandonou.

"Floaters In Mud" tem uma levada bem Thrash/Groove, remetendo aos tempos do Chaos A.D. Derrick canta, ora de forma agressiva, ora de forma mais calma, a letra que fala sobre uma pessoa que luta contra si mesmo, que não encontra razão para viver. Uma letra sufocante e com um significado que leva a diversas interpretações, a qual não irei apontar um ponto de vista prévio. Aqui nota-se as influências de música japonesa, ao decorrer de algumas passagens.

Boycott, pra mim, é uma das músicas mais fracas do disco. Com um início bastante "rap-metal", a música explode para uma levada rápida e com Igor Cavalera mostrando toda a sua força. Mas ainda assim, é aquele tipo de música que, em meio as outras, soa apenas como tapa buraco. Não empobrece a audição do álbum, mas também não enriquece. A letra fala sobre dificuldades da vida em si (esse é o tema mais comum em torno do álbum), e sobre como livrar-se de tudo isso através de boicotes (título da faixa).

"Tribus", é uma faixa basicamente percussiva e instrumenta, a lá "Kaiowas", do Chaos A.D. Influências de percussões japonesas e brasileiras, o que resulta numa ótima combinação. Mas, por algum motivo, tenho a impressão de que ela foi má deslocada no álbum.

"Commons Band" retorna com todo o Groove, e também as influências de Nu Metal, como KORN e DEFTONES. A música possui o melhor riff de Andreas no álbum, a música tem uma letra que fala sobre as vitórias e derrotas de um ser humano, seus pontos de vista, sobre a força que cada um de nós possuímos, e como usamos ao decorrer das nossas vidas. O finalzinho da música é destaque, com Igor mandando uns D-Beats a lá Ratos de Porão, um pequeno solo de Andreas Kisser, e Derrick gritando o épico verso ao final: "STRENGHT IN MIND".

"F.O.E", é outra música que eu consideraria dispensável. Nada mais é que a abertura do Globo Repórter. Sinceramente, não entendo até hoje porque motivo a banda quis gravar a sua própria versão. No entanto, acaba surgindo com uma curiosidade a respeito do álbum.

"Reza", conta com a ilustre participação de João Gordo, do RATOS DE PORÃO, e é uma das minhas músicas preferidas, não só do álbum, mas da carreira do Sepultura inteira. Com a melhor letra do álbum, que ataca diretamente a fanáticos religiosos e seus dogmas. Para que sua voz ficasse ainda mais gutural, Gordo gravou os vocais mastigando pedaços de bolo! O instrumental da faixa é veloz e direto, com destaque para a cozinha de Paulo e Igor.

É a partir daqui que o álbum começa a se tornar um pouco cansativo. "Unconscious" é uma música muito pesada e com uma levada mais Metal, dentro dos parâmetros estabelecidos, com as já citadas influências de música japonesa e brasileira. A letra, como já diz o título, fala da dor da inconsciência, do medo desta.

"Kamaitachi", é o ponto alto das influências japonesas no álbum. Com a participação do Grupo K.O.D.O (percussionistas japoneses que levam a tradição de tocar os tambores pai para filho, a qual causava a fascinação do baterista Igor Cavalera), a música é um dos pontos mais interessantes do álbum. Mesmo sendo basicamente uma faixa de percussão soa agressiva e poderosa. Uma pena que seja uma música esquecida.

"Drowned Out" é a mais Thrash e veloz do disco. A letra exala uma raiva latente, assim como o instrumental, com Derrick repetindo ferozmente o refrão:

"Never any remorse, never any remorse
Always turning your back
Drowned out, drowned out"

"Hatred Aside" ganha o título de faixa mais experimental (para não dizer estranha) do álbum. Com letra e participação de Jason Newsted, até então integrante do METALLICA, a música se alterna entre vários compassos e andamento, sendo difícil absorve-la completamente a primeira audição. Admito que até hoje tenho algumas pulgas na orelha ao escutá-la. A letra fala sobre desordem, uma corrida contra o próprio tempo. Ainda tenho dúvidas de como soaria essa música ao vivo nos dias de hoje.

E o álbum encerra com a instrumental T3rcermillennium, que nada mais é do que uma versão estendida da faixa "Tribus".

"Against" é um álbum que gera opiniões controversas desde o seu lançamento. Alguns o taxam de experimental de mais, outros reclamam da falta de solos, o que eu considero desculpa esfarrapada, pois no aclamado álbum anterior estes também já eram escassos. Outros fazem birra simplesmente por não ser Max Cavalera a frente dos vocais, situação completamente aceitável, afinal cada um possui suas devidas preferências e assim como ninguém é obrigado a aceitar o Max fora da banda, ninguém é obrigado a aceitar o Derrick dentro dela. Particularmente, achei a estreia do Predador na média. Demorei um tempo até escutar esse álbum com a devida atenção. E quando o fiz, percebi que se tratava de um trabalho detalhista e muito bem feito, e muito rico em aspectos musicais e culturais. Escute-o, focando-se na música que ele traz, e não na que o Sepultura fazia anteriormente. Pois esse é sim, um dos álbuns mais criativos e interessantes da banda, dentro do que se propôs na época.



Fonte: Resenha - Against - Sepultura http://whiplash.net/materias/cds/203711-sepultura.html#ixzz3BMwUigrD
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Autor Mayumi Ohasi

Mayumi Correa Ohasi, nasceu em 10 de março de 1996 na cidade de Himeji-Japão. Começou faculdade de Designer Gráfico mas trancou no 2° semestre. Administradora do site Mayumi Ohasi e HM Rock Reviews.

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